Entrevista: Médico Infectologista da Santa Casa orienta sobre coronavírus
02/04/2020
O avanço do surto de Coronavírus, que começou na cidade chinesa de Wuhan e, até a tarde de quarta-feira, dia 01, já havia infectado mais de 930 mil pessoas pelo mundo tem despertado uma série de dúvidas, principalmente sobre a real gravidade da situação. Para sanar alguns questionamentos sobre esse vírus, o Jornal Momento entrevistou o infectologista da Santa Casa de Sertãozinho, Dr. Lucas Barbosa Agra. Saiba quais as recomendações atuais para se evitar o contágio.
Santa Casa: O que é o Coronavírus e como surgiu?
Dr. Lucas: Os coronavírus são uma família de vírus, conhecida desde a década de 1960, que causam infecções respiratórias. Habitualmente ele já circula entre os seres humanos, causando resfriados leves. No entanto, pode ocorrer de surgirem mutações no vírus que conferem alguma característica de transmissão ou de sintomas diferente do habitual, podendo ocasionar em um surto da doença. Em 2002 uma variante de coronavírus, que foi nomeada de SARS-CoV-1, causou um surto com início na China. Em 2012, outra variante, que ficou conhecida como MERS-CoV, deu origem a um surto de doença no Oriente Médio. Atualmente, a variante chamada de SARS-CoV-2 está causando o surto com início também na China. Mutações em vírus são situações comuns que ocorrem a todo momento. Não se sabe exatamente qual a origem do SARS-CoV-2.
Santa Casa: Por que está se alastrando tão rapidamente?
Dr. Lucas: Por ser um vírus de transmissão respiratória, através de gotículas, sua disseminação é fácil e rápida se não forem tomadas as medidas necessárias. Semelhante à gripe, o novo coronavirus é transmitido pela tosse, secreção nasal, saliva e contato com essas secreções de pessoas com a doença. Além disso, ele pode sobreviver em superfícies se não for feita a limpeza adequada, facilitando sua transmissão rápida de pessoa a pessoa.
Santa Casa: O que ele tem de diferente dos demais vírus já existentes?
Dr. Lucas: Todos os vírus possuem particularidades próprias, causando doenças a depender de qual região do nosso organismo eles usam para se proliferar. Os coronavírus localizam-se principalmente nos pulmões, portanto a maioria dos sintomas causados são respiratórios. Diferentemente de outros vírus dessa mesma família, o novo coronavírus tende a causar sintomas mais exacerbados e se transmite com maior facilidade. Em comparação com a gripe sazonal, onde 1 pessoa doente transmite para em média 1,3 pessoa, o novo coronavírus tem uma taxa de transmissão de 2,74, portanto sua transmissão ocorre duas vezes mais rápido.
Santa Casa: Por que está causando tantas mortes e em tão pouco tempo?
Dr. Lucas: Por ser um vírus que se espalha rapidamente se não são tomados os cuidados necessários, ele acaba atingindo um grande número de pessoas ao mesmo tempo. Pessoas idosas ou que já possuem outras doenças como pressão alta, diabetes, câncer ou doença pulmonar crônica têm uma resposta imune menos eficiente para se defender da infecção, o que contribui para que o vírus se multiplique rapidamente dentro do indivíduo doente e possa ocasionar a morte. Não se sabe ainda qual a característica específica do SARS-CoV-2 que ocasiona maior taxa de mortalidade.
Santa Casa: Quais os sintomas?
Dr. Lucas: Os sintomas mais comuns são tosse, febre e falta de ar. Assim como resfriados comuns, o novo coronavírus também pode causar dor no corpo, mal-estar, coriza, dor de cabeça, náuseas e diarreia.
Santa Casa: Há tratamento e cura ou possibilidade de cura e vacina para ele?
Dr. Lucas: A maior parte das pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 apresenta cura espontânea da doença. A taxa de mortalidade atual encontra-se em torno de 3,7%, enquanto os demais infectados apresentam resolução da doença. Até o momento, não há tratamento específico. Pesquisas estão sendo feitas em busca de tratamentos que possam ser efetivos para auxiliar na resolução da doença, no entanto, ainda não temos nada com eficácia comprovada.
Pesquisas também estão sendo feitas em busca de uma vacina contra esta doença. Diversos países do mundo possuem pesquisadores voltados para o assunto, incluindo a Universidade de São Paulo (USP) no Brasil. Até o momento, no entanto, não temos vacina aprovada para uso em humanos. Importante lembrar nessas horas o valor de incentivar pesquisas de base no país, em qualquer época ou situação político-econômica que o mundo esteja passando, pois são nos momentos de crises, surtos ou pandemias que enxergamos a necessidade de ter uma estrutura laboratorial pronta e com profissionais de qualidade para auxiliar na resolução do problema.
Santa Casa: Como se prevenir e contribuir para a diminuição dessa disseminação?
Dr. Lucas: A principal prevenção que temos no momento é evitar exposição. Lavar as mãos frequentemente, após encostar em qualquer lugar, evitar tocar o rosto, boca, olhos, evitar aglomerações e ambientes públicos. As medidas tomadas pelo Estado de fechamento de locais públicos e pontos de aglomeração são de extrema importância para que todos fiquem em suas casas, fora de circulação, evitando que se entre em contato com pessoas doentes. Quanto menos gente tiver contato, menos pessoas teremos transmitindo a doença no nosso país, portanto essa responsabilidade é de todos nós e não deve ser negligenciada.
Santa Casa: É possível extingui-lo de vez?
Dr. Lucas: Dado o atual nível de disseminação, a extinção do vírus é considerada bastante improvável. O que podemos fazer é reduzir ao máximo sua transmissão, para que menos pessoas fiquem doentes.
Santa Casa: Existe um grupo de risco? Qual é esse grupo e como essas pessoas devem proceder?
Dr. Lucas: Indivíduos com mais de 50 anos (especialmente com mais de 70 anos) ou que possuam doenças como hipertensão, diabetes, doença cardíaca, doença pulmonar crônica (como asma, enfisema) ou algum tipo de imunossupressão, são considerados de risco. A recomendação para essas pessoas é que permaneçam em casa, o mais longe possível de aglomerações, e façam frequentemente a higienização das mãos para se prevenir de adquirir a doença. Pessoas em uso de corticoide crônico ou outros medicamentos imunossupressores podem conversar com seus médicos para avaliar a necessidade de troca ou redução de dose de alguns medicamentos neste momento. Não recomendamos, no entanto, o uso de medicamentos por conta própria ou a suspensão de remédios de uso contínuo sem a devida avaliação médica. (Assessoria de Imprensa e Comunicação – Josiane Cunha)